segunda-feira, 23 de maio de 2011

A Importância do Latim na Atualidade …mas hoje para que serve o latim?


A Importância do Latim na Atualidade


… mas hoje para que serve o latim?

Costumo dizer que isso não é pergunta que se faça, mas já que é feita, perguntas são para ser respondidas. Em nosso século, em que imperam a eletricidade e a velocidade, parece de fato estranho e até anacrônico, à primeira vista, o estudo do latim.

Qual a utilidade de uma língua morta, que requer atenção, dedicação e esforço? Em que isso vai ajudar a mudar minha vida, fazendo-me galgar posições mais elevadas da sociedade? Tudo depende de como se encara o problema. Com o latim aprenderemos a compreender melhor o nosso idioma, que contém mistérios interessantíssimos.

O latim serve-nos de trampolim para mergulhos mais profundos na nossa visão de mundo, no nosso modo de pensar, na nossa vida. Aquele que entende bem a mensagem que o latim passa em seus textos se questionará melhor e verá que antes de nossos valores, havia outros, muito distintos, mas perfeitamente coerentes, que merecem nossa admiração e respeito.

Longe de ser retrógrado, o estudo do latim associado ao estudo da vida social em Roma nos faz vislumbrar quanta coisa mudou e quanta coisa ainda continua surpreendentemente do mesmo jeito que era, muitas vezes apenas com os nomes trocados. Sim, porque o que se herdou do Império Romano ao longo desses vinte e sete séculos de uso do latim escrito não foi pouco. Resumindo, eu responderia à pergunta do título com uma outra pergunta: por que não estudar o latim?

Além disso, de língua morta o latim não tem nada. Vejam, por exemplo, quantas expressões são usadas em Direito. Quem nunca ouviu falar de habeas corpus? dealibi? De data venia? O latim não está de forma alguma morto, está no nosso dia-a-dia: quem nunca mandou um curriculum vitae? Quem nunca ouviu falar de rendaper capita? Ou pensou em fazer uma pós-graduação lato sensu? Ou ouviu que alguém é doutor honoris causa?Quem nunca fez um P.S. ao fim de uma carta? Ora, isso também é latim: post scriptum. Essa antiga língua de Roma está nas tecnologias mais modernas, está na fecundação in vitro, nas invenções mais recentes: está, por exemplo, no fax (abreviação de fac simile, que significa "faça de maneira semelhante", não é isso que faz o fax?). Mesmo muitas palavras importadas do inglês remontam ao latim: na Informática usa-se o verbo deletar, do inglês to delete, que vem, por sua vez, do verbo deleo em latim, que significa "destruir". De tão entranhado na nossa língua, o latim até se confunde com ela: idem é latim, a expressão grosso modo também (por isso, é errado dizer "a grosso modo"), o supra summum, o et caetera, até a expressão vulgo, quando dizemos José Carlos vulgo Zeca. E há muito, muito mais: expressões como a priori, alter ego, causa mortis, ex libris, exempli gratia, Homo sapiens, in continenti, in loco, ipsis litteris, lapsus linguae, modus vivendi, mutatis mutandis, pari passu, persona non grata, ad hoc, sine qua non, scilicet, sic, status quo, carpe diem, sui generis, ab imo pectore, tabula rasa, vade mecum, vade retro, Aedes aegypti, só para citar as mais comuns, dão um sabor todo especial à redação de um texto e ¾ por que não? ¾ à fala, sem falar de provérbios comoalea jacta est, cogito ergo sum, mens sana in corpore sano.

Portanto, aprender ou não o latim não é a questão. Ele já convive conosco, pois é a alma de nossa língua e bastaria reconhecê-la. Com o latim, vemos que as irregularidades e as temíveis exceções das gramáticas não são nem irregulares, tão pouco exceções. Tudo passa a ter uma lógica mais clara e previsível. Se já conhecemos bastante latim, por que não saber mais? Ampliando ou aprimorando nosso vocabulário, não nos destacamos? Está respondida a pergunta daquele que quer mudar sua posição social.

Mário Eduardo VIARO (USP), Publicado na Revista de ciências humanas e sociais, São Paulo, Unisa, v. 1, n. 1, p. 7-12, 1999.


FONTE: http://www.opejuris.com/


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